quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A Animação Comunitária e o Desenvolvimento Local

Antes de se abordar o tema da animação comunitária deve-se definir comunidade, pois é nesta que ela actua. Segundo Quintana (1993) pode-se considerar que é um grupo social composto por unidades familiares, que têm entre elas relações de parentesco, em que existe um sentimento de pertença e coesão social. Cada comunidade está sujeita a uma organização específica e a um funcionamento muito próprio, dos quais dependerão o tamanho, a dispersão ou a concentração da população que a compõe e a sua capacidade de organização.

A animação comunitária tenta compreender a realidade social na sua evidente multidimensionalidade, para intervir tendo como fundamento “uma cultura de desenvolvimento que constitui o ponto de partida de base, para que, de maneira gradual, o processo de desenvolvimento local possa ganhar a dimensão de um projecto colectivo, assumido pelos actores locais e auto-sustentado”. De facto, “A animação, qualquer que seja o seu âmbito de intervenção profissional/social, adquiriu grande importância na sociedade actual”, não deve ser estática, mas sim um elemento fundamental e estruturante de processos de mudança social.

E. Ander-Egg (1980) define o desenvolvimento comunitário como “um processo destinado a criar condições de progresso económico e social para toda a comunidade, com a participação activa da mesma, e a maior confiança possível na sua iniciativa […] tendo como objectivo conseguir uma melhor e maior participação da população nos assuntos locais…”. Deste modo, para mobilizar todos os membros de uma comunidade a animação comunitária estimula a iniciativa e a participação, proporcionando um tempo de escuta, discussão e reflexão, em que se favorece a evolução das mentalidades, das suas aspirações e necessidades.

É na educação não formal que a animação comunitária se afirma, num processo de educação para toda a vida, privilegiando mais os efeitos que as intenções. Na verdade é através da educação permanente que as comunidades procuram resolver os seus problemas numa perspectiva de auto-gestão da sua vida quotidiana, incluindo estas aprendizagens em projectos colectivos e globais que se constituem em pedagogia para o desenvolvimento local. Esta pode ser considerada como uma pedagogia popular constituída por objectivos educativos e formativos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A criança dos 6 aos 12 anos

Na elaboração e implementação de um projecto de animação desportiva e tempos livres, tem que haver respeito pelas necessidades do desenvolvimento da criança, neste caso, com idades compreendidas entre os seis e os dez/doze anos. Há que ter em conta o ponto de vista do desenvolvimento cognitivo, e o ponto de vista do desenvolvimento emocional, e o ponto de vista da relação social. Procurando-se desta forma, respeitar o ritmo da criança e as suas motivações.

O processo de socialização da criança está intimamente ligado à entrada na escola, pois é desta forma que ela passa a ter um maior horizonte social. Ela começa a aperceber-se que pode fazer parte de vários grupos e começa a classificá-los e a distingui-los. No início da sua escolarização, a crianças passa por algo como um «choque», pois passa de um meio afectivo para outro onde tem de movimentar-se por entre «iguais» e embora se encontre capaz para enfrentar essa situação, isso causa sempre alguns distúrbios emocionais. Embora, muitas das vezes essa transição do meio familiar para o escolar, decorre normalmente sem grandes problemas, acabando por haver uma inserção. A criança começa a saber contar com os outros.

Segundo Piaget, a criança vai desenvolvendo a sua estrutura mental por estádios, o que possibilita o processamento da informação que vai recebendo, actuando sobre essa mesma informação consoante a sua idade, já que aquelas estruturas são processos intelectuais que variam com a idade. Há, pois uma orientação evolutiva nos conceitos apresentados por Piaget.

Devido aos esquemas mentais a criança começa a compreender a relação entre a parte e o todo, e a noção de tempo e de espaço. A criança entende por esta altura que o seu pai também é filho.
Para Marques (1997: 66), referenciando Piaget, «Dos sete aos onze anos, as crianças encontram-se no estádio das operações concretas e começam a manifestar a capacidade para efectuarem operações que exijam reversibilidade. Nesta fase, a maneira como as crianças encaram as regras do jogo caracteriza-se pelo respeito unilateral das regras».

A criança pode de uma forma calma e com disponibilidade interior, desenvolver competências e fazer aprendizagens diversas, sejam elas: escolares, sociais ou culturais. Segundo Filliozat (2000) no período de latência a criança está preparada para fazer grandes aprendizagens através da actividade lúdica. Por esta altura torna-se importante a vivência em grupo e a obediência a regras do jogo social.

Uma outra grande aprendizagem é a compreensão dos papéis sexuais, isto é, o que é ser mulher ou homem, na sociedade que vive. Segundo Pedro Strech (2001: 71), «Passamos da fase de quererem saber como nascem os bebés, para desejarem saber o que se passa com os animais, quais são os maiores rios, as questões da natureza, as curiosidades sobre História, o gosto de ler, pintar, aprenderem música, fazerem desporto, coleccionarem cromos, integrarem actividades extracurriculares, brincarem a jogos com nomes de cidades, marcas de carro, manifestarem o desejo de convidar amigos para dormir lá em casa, terem prazer em organizar as festas de anos com colegas da escola. É também uma altura de preocupação de ordem mais transcendente, como as religiosas, as perguntas de como apareceu o mundo, ou do contacto realista com a ideia de morte como algo universal e irreversível.»

Ainda segundo Pedro Strecht (2001: 72) «é muito comum as raparigas organizarem-se preferencialmente com grupos de outras meninas, marcando dessa forma preferência por determinado tipo de brincadeiras, linguagem gestual, investimento corporal, entre outras. Os rapazes também».

Freud designa como período de latência a fase em que a criança procura de uma forma discreta, identificar-se com a imagem social correspondente ao seu sexo, dando assim relevo à sua evolução psíquica.

A criança encontra-se em desenvolvimento, o que quer dizer que está a assimilar a realidade e se está acomodando a ela por etapas sucessivas e de uma forma cada vez mais próxima dos padrões do adulto.

Durante o desenvolvimento da criança e a sua actividade lúdica existem comportamentos e atitudes significativos, que o animador deverá conhecer e interpretar para que, mais facilmente, possa contribuir para o seu desenvolvimento e satisfação lúdica.